quinta-feira, 28 de abril de 2011

OS ARAPONGAS DO PATRULHAMENTO CRICRI

A opção é entre a obra de Monteiro Lobato...
Depois de escorraçados pelos cultos, libertários e (consequentemente) antípodas da censura no final de 2010, os patrulheiros cricris contra-atacaram da forma mais sórdida possível, desencavando cartas em que Monteiro Lobato  expressou conceitos racistas.

Ora, em nenhum momento estiveram em questão as opiniões que o grande escritor, o grande defensor dos interesses nacionais e o grande adversário da ditadura getulista remoía na intimidade. 

Além de inquisidores, os patrulheiros cricris são bisbilhoteiros, comportando-se como repulsivos arapongas.

Igualmente, a grandeza da obra de Jorge Luis Borges não foi destruída pelo seu apoio a uma ditadura argentina -- embora isso nos tenha levado a perder o respeito por ele como homem.

No caso de Lobato, a coisa fede: ele nunca fez proselitismo contra os negros, mas, pelo contrário, compôs sua inesquecível Tia Nastácia como uma personagem extremamente humana, simpática, generosa e sábia em sua ingenuidade de mulher simples do povo.

...a de Torquemada...
O fato é que os patrulheiros cricris fracassaram rotundamente ao tentarem imputar racismo a Lobato a partir das pirraças da Emília, pois qualquer leitor isento percebe que as frases desaforadas da boneca falante não são endossadas, mas sim implicitamente criticadas, como exemplo de mau comportamento, pelo escritor.

Isto é o que importa, e é só o que importa

Se Lobato foi hipócrita e escondeu suas verdadeiras opiniões, por saber que desagradariam aos leitores e o deixariam malvisto nos círculos intelectualizados, é algo que o desmerece como homem. Mas, não há racismo nenhum em Caçadas de Pedrinho, nem em nenhuma obra de literatura infantil do nosso maior escritor do gênero em todos os tempos.

Ninguém aguenta mais o patrulhamento e a má fé dos macartistas de esquerda, que pensam ser tão diferentes, mas são tão iguais aos McCarthys e Nixons -- salvo por nunca haverem tido poder suficiente para mandar seus perseguidos para a cadeia ou condená-los ao ostracismo.

E, em termos mais amplos, tudo o que eu tinha a dizer sobre o episódio em si, antes de os patrulheiros cricris descerem ao nível do esgoto, eu já dissera no meu artigo O Waterloo do patrulhamento cricri, de 09/11/2010 -- que colocou a discussão num nível inalcaçável para esses aprendizes de Torquemada.

Vale a pena ler de novo:

O bizarro episódio em que uma integrante do Conselho Nacional de Educação afirmou existir racismo na obra de Monteiro Lobato, não se esgota na rejeição do seu parecer por parte do ministro Fernando Haddad. É hora de nos defrontarmos com o monstro, e não apenas com a mais chocante de suas monstruosidades.

...a de Joseph McCarthy...
O que havia para se dizer sobre o  politicamente correto, Karl Marx já disse, em 1845, nas Teses sobre Feuerbach:
"A doutrina materialista de que os seres humanos são produtos das circunstâncias e da educação, de que seres humanos transformados são, portanto, produtos de outras circunstâncias e de uma educação mudada, esquece que as circunstâncias são transformadas precisamente pelos seres humanos e que o educador tem ele próprio de ser educado. Ela acaba, por isso, necessariamente, por separar a sociedade em duas partes, uma das quais fica elevada acima da sociedade.

A coincidência do mudar das circunstâncias e da atividade humana só pode ser tomada e racionalmente entendida como praxis revolucionária." (3ª tese)

"Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo." (11ª tese)
Ou seja, os educadores que se arrogam o direito de decidir o que crianças (ou a sociedade como um todo) podem ou não ler, e com que ressalvas lhes devem ser apresentadas tais leituras, têm, eles próprios, de ser educados.

As mudanças das circunstâncias e da atividade humana só se dão por meio da prática revolucionária, não de uma educação mudada (ou expurgada, censurada, castrada, mutilada, maquilada, engessada, etc.).

...e a de Richard Nixon.
Pois não basta a adoção de outras palavras para eliminar-se a carga de preconceitos com que as pessoas as impregnaram, nem fazer triagem de obras artísticas para extirparem-se os comportamentos condenáveis nela retratados.

Somente livrando a humanidade do pesadelo capitalista conseguiremos dar um fim a todas as formas de discriminação, pois uma das molas-mestras da sociedade atual é exatamente a busca da diferenciação, do privilégio, do status, da superioridade.

Enquanto os seres humanos forem compelidos a lutarem com todas as suas forças para se colocarem acima de outros seres humanos, será ilusório pretendermos tangê-los ao respeito mútuo por meio de besteirinhas cosméticas.

É desprezando os iguais que eles adquirem forças para a luta insana que travam, pisando até no pescoço da mãe para alçarem-se a outro patamar da hierarquia social.

Então, a verdadeira tarefa continua sendo a transformação do mundo, para que não haja mais hierarquia e sim a priorização do bem comum, com cada um contribuindo no limite de suas possibilidades para que sejam atendidas as necessidades de todos.

Enquanto nos iludirmos com esses pequenos retoques na fachada do edifício capitalista, estaremos perdendo tempo: seus alicerces estão podres, para além de qualquer restauração.

Ou o demolimos e tratamos de erguer novo edifício em bases sólidas, ou ele ruirá sobre nós.

É simples assim.

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