"Um membro do movimento anarquista de Atenas, que participou dos protestos de domingo, justificou os incêndios que atingiram cerca de 50 edifícios: 'Pusemos fogo nos bancos, nas grandes lojas internacionais, porque esses são os culpados da crise', disse à Folha o jovem, que não quis se identificar.
'O pacote aprovado pelo Parlamento é para salvar os bancos, e não o povo. A situação está terrível, as pessoas aqui estão se matando por não terem como pagar as contas. Até as faculdades, que antes eram gratuitas, nós teremos que pagar', criticou o estudante de economia".
É compreensível que os gregos reajam com violência à penúria que lhes está sendo imposta sem qualquer motivo aceitável --pois crise real não existe nenhuma.
Se as safras tivessem sido devastadas por catástrofes, os rebanhos dizimados por pestes ou a capacidade de geração de energia fosse insuficiente para as indústrias produzirem itens necessários, haveria problemas de verdade.
Se as safras tivessem sido devastadas por catástrofes, os rebanhos dizimados por pestes ou a capacidade de geração de energia fosse insuficiente para as indústrias produzirem itens necessários, haveria problemas de verdade.
Para os poderosos, seres humanos têm de ser abatidos --metaforicamente, ou mesmo a balas-- porque os números não batem.
Para os seres humanos, muito melhor será queimar-se tal contabilidade perversa.
Bem que Marcuse advertiu: a lavagem cerebral da indústria cultural condicionaria os homens a encararem a organização atual da sociedade como a única possível, a sentirem-se impotentes para mudar aquilo que os infelicita.
Então, ninguém mais se pergunta, seriamente: para que precisamos de bancos?
Para que precisamos de grandes lojas internacionais, ou lojas de qualquer tipo?
Por que precisamos pagar por seja lá o que for (vivendo nós também agoniados por causa de números que não batem)?
Não seria muito mais simples organizarmo-nos coletivamente para produzir o realmente necessário, entregando a cada família o quinhão de que realmente necessita e tendo muito mais tempo livre para fazermos o que quiséssemos?
Hoje já ultrapassamos a barreira da escassez e, se aproveitarmos racionalmente o potencial produtivo disponível, garantiremos tranquilamente a cada habitante do planeta tudo de que necessita para uma existência digna --sem estourarmo-nos de trabalhar e sem colocarmos a própria sobrevivência da humanidade em risco por causa da ganância desmedida.
Então, mais do que nunca, só depende de nós deixarmos de ser peões, não dançarmos mais amarrados pelo pescoço com cordão, não sermos mais empregados e também não virarmos patrões, como cantou o grande Elomar Figueira de Melo.
Então, mais do que nunca, só depende de nós deixarmos de ser peões, não dançarmos mais amarrados pelo pescoço com cordão, não sermos mais empregados e também não virarmos patrões, como cantou o grande Elomar Figueira de Melo.
É óbvia a impossibilidade de vivermos assim, como seres humanos dignos deste nome, sob o capitalismo. Mas, quem precisa verdadeiramente do capitalismo? O que nos impede de deletarmos os que parasitam nosso trabalho e fazermos nós mesmos o que tem de ser feito, em nosso benefício e dos que virão depois de nós?
Quando, secundarista de 17 anos, participei da minha primeira passeata, no início de 1968, fiquei frustradíssimo porque os universitários montaram um esquema de segurança para impedir o apedrejamento do First National City Bank, na famosa esquina da Ipiranga com a avenida São João. Aquelas vidraças eram uma tentação!
Viraram cacos quando a repressão se abateu sobre passeatas seguintes e ninguém viu mais motivo para refrear sua gana por justiça... simbólica.
Hoje, quando passo por esses imensos e luxuosíssimos bancos das nossas principais avenidas, não penso em vê-los apedrejados (ou queimados).
Penso em quanta coisa útil poderá ser feita nessas edificações, depois que enxotarmos os parasitas e as colocarmos a serviço dos homens.
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