sexta-feira, 24 de julho de 2015

EDITORAL DA "FOLHA" EXPRESSA A FÚRIA DOS PODEROSOS FACE AO FRACASSO DO ARROCHO FISCAL

Os editoriais da Folha de S. Paulo não cheiram nenhum perfume que agrade ao olfato dos melhores seres humanos; nem, na maioria das vezes, fedem. Ficam mais nas obviedades e platitudes, no nem sim, nem não, muito pelo contrário...

São raros os contundentes como o provável campeão de rejeição em todos os tempos --aquele  que, baixando o cassete em Hugo Chávez, en passant minimizou o terrorismo de estado imposto ao Brasil pelos golpistas de 1964, qualificando-o de ditabranda.

Então, chama a atenção o tom exacerbado, cuspindo fogo, que a Folha adotou nesta 6ª feira (24) para deplorar o malogro do arrocho fiscal do Joaquim Levy:
"O Brasil está à deriva num mar tempestuoso. O lamentável desfecho do debate acerca das contas públicas acentuou a sensação de que ninguém controla o leme desse gigantesco transatlântico.
Acho que entendi errado aquelas teses do Friedman
Reduzir a meta de economia de gastos em 2015 foi o menor dos males, pois já estava clara a impossibilidade de o setor público destinar R$ 66,3 bilhões para abater a dívida ao final deste ano de aguda recessão. A magnitude da revisão e sobretudo o modo como se desenrolou é que recendem a capitulação.
O novo objetivo [saldo positivo de R$ 8,7 bilhões] já surge com uma cláusula que perdoa seu descumprimento e admite deficit de até R$ 17,7 bilhões.
Premia-se a irresponsabilidade do Congresso...
 ...à exceção do Ministério da Fazenda, os atores institucionais relevantes para a condução da política econômica se sentem livres para boicotar o ajuste.
...Perfilam-se entre os sabotadores os líderes do Congresso e do Judiciário, o ministro da Casa Civil, o titular do Planejamento e a própria presidente da República, cuja inépcia se ressalta a cada decisão importante que tem a tomar...
...Se quiser recuperar a confiança maculada, Dilma Rousseff precisa decidir-se sobre o rumo a seguir e agir resolutamente. Chega de sustentar uma equipe desarmônica de ministros. Aos sabotadores a mensagem deve ser clara: ou submetem-se ou deixam o governo".
Ou seja, a Folha apresenta o ministro da Fazenda como uma Chapeuzinho Vermelho cercada de lobos por todos os lados. Nem uma palavra a respeito de sua falta de estatura para o cargo: Levy não passa de um economista menor, sem brilho acadêmico, que atuou quase sempre em governos e, como mero coadjuvante, em instituições como o FMI e o Banco Central Europeu, nelas aprendendo a priorizar invariavelmente os interesses do capital financeiro, em detrimento da felicidade e até da sobrevivência dos seres humanos. 

Mesmo no Bradesco (cujo diretor-presidente, Luiz Carlos Trabuco, indicou-o para Dilma após recusar a proposta de ele próprio assumir a Pasta) só servia para cuidar da gestão de ativos de terceiros, um tentáculo menor do polvo.

Tem as simpatias da direita em geral por ser um neoliberal de corpo e alma, mas inspira desconfiança no chamado mercado por ter um currículo meia-boca. Se era para impor aqui uma política de austeridade igualzinha àquela que tem desgraçado nações como a Grécia, por que a Dilma não chamou logo o Delfim Netto? Seus valores ideológicos são tão execráveis quanto os do Levy, mas possui a expertise que falta ao patético e (agora) fracassado Chicago (office) boy...

Querer ficar bem com a direita...
O fiasco era a chamada caçapa cantada, não só pela resistência dos que se beneficiam do loteamento do Estado e mamam nas suas tetas, mas também por um motivo que venho  apontando desde a campanha: a política econômica que os poderosos exigiam (essa que está aí) JAMAIS poderia ser implantada pelo PT, que a vinha rechaçando veementemente desde seus longínquos primórdios, na segunda metade da década de 1970, quando Lula liderava as grandes greves do ABC paulista. Não se pode pisar num passado destes, destruindo a própria identidade do petismo.

O PT poderia, simplesmente, haver disputado a eleição de forma leal, sem desconstruir Marina Silva com uma satanização de fazer inveja a Joseph Goebbels. Provavelmente perderia, deixando para sua filha pródiga a espinhosa tarefa de mergulhar o País numa recessão para fazer a vontade dos grandes capitalistas.

Ou ter, uma vez reeleita Dilma, feito exatamente o que prometera: não se vergar aos bancos e ao patronato em geral. Os austericídios já consumados são provas eloquentes de que o emagrecimento forçado proposto por Friedman e imposto por Thatcher, Reagan, Pinochet, Merkel, etc., NÃO FUNCIONA!!! Leva as nações à anorexia, mandando-as para a UTI. 

...e com a esquerda não funciona mais, portanto...
Já passou da hora de os países imolados no altar do capital começarem a unir-se para reagirem, e o Brasil poderia desempenhar um papel de destaque num processo desses. Isto, sim, seria coerente com o que o partido proclamou no seu manifesto de fundação: 
"O PT nasce da decisão dos explorados de lutar contra um sistema econômico e político que não pode resolver os seus problemas, pois só existe para beneficiar uma minoria de privilegiados".
O que o PT jamais poderia é ter adotado uma retórica de esquerda para salvar (na bacia das almas) uma eleição praticamente perdida e depois aplicar a política econômica da direita mais impiedosa. É POR ISTO QUE NÃO CONSEGUE CONTROLAR O LEME DO TAL TRANSATLÂNTICO E A REJEIÇÃO A DILMA HOJE ALCANÇA NÍVEIS ESTRATOSFÉRICOS!

A melhor saída para o buraco em que se meteu será voltar a ser fiel aos seus ideais:
  • exonerando Levy e outros estranhos no ninho como Kátia Abreu e George Hilton;
  • dando uma guinada de 180º na política econômica; e 
...chegou a hora de escolher um lado.
  • retirando a coordenação política das mãos fisiológicas de Michel Temer (Lula é o ÚNICO quadro de que o PT dispõe para exercer tal papel num momento crítico como o atual). 
Desta forma, ou viraria o jogo ou, pelo menos, perderia por razões defensáveis e posicionado do lado certo, o dos explorados. 

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