Pesadelos da ficção-científica virarão realidade? |
Não sei quando isso acontecerá, mas essa será a crise de fundo do capitalismo: destruir as condições de sua própria existência, destruindo o ambiente, modificando condições que nunca deveriam ter sido modificadas."
A previsão é de Michael Burawoy, presidente da Associação Internacional de Sociologia.
Fez-me lembrar a tese soturna de Friedrich Engels: se uma classe dominante consegue perpetuar relações de produção condenadas, que estão travando o desenvolvimento das forças produtivas, acaba ensejando o advento da barbárie.
Assim, quando a escravidão se tornou anacrônica e contraproducente, era Spartacus e seus gladiadores que encarnavam a possibilidade de, mediante sua erradicação, o Império Romano ascender a um degrau superior de civilização. Ao derrotá-los, Roma tirou de cena os únicos sujeitos históricos capazes de darem uma resposta positiva à contradição existente.
A estagnação ensejou a barbárie |
Detida a revolução que a transformaria por dentro, fazendo-a evoluir, sobreveio a estagnação, o enfraquecimento e, finalmente, a destruição por parte dos que vinham de fora e expressavam um estágio de desenvolvimento há muito superado por Roma. O relógio da História andou para trás.
Agora, podemos estar diante de uma situação semelhante. O capitalismo se torna cada vez mais pernicioso e destrutivo, porque esgotou seu papel histórico e tem sobrevida parasitária.
Desenvolveu enormemente as forças produtivas, permitindo que a humanidade finalmente ultrapassasse a barreira da necessidade; hoje estão dadas as condições para a produção de tudo aquilo de que cada habitante do planeta necessita para uma existência digna.
Mas, tendo como prioridade máxima o lucro e não o atendimento das necessidades humanas, desperdiça criminosamente tal potencial, impõe uma desnecessária e embrutecedora penúria a parcela considerável da humanidade, provoca turbulências econômicas cada vez mais frequentes, multiplica as agressões ambientais e malbarata os recursos naturais finitos dos quais depende a sobrevivência de nossa espécie.
Por enquanto, graças aos mimos que proporciona aos que participam do sistema (ao preço da exclusão de tantos outros seres humanos), à avassaladora eficiência tecnológica e à manipulação científica das consciências por parte de sua nefanda indústria cultural, tem conseguido evitar a revolução -- cada vez mais necessária e premente. Até quando?
Marcuse acreditava numa resposta provinda de quem estivesse fora do sistema, não submetido à sua lógica unidimensional, que exclui alternativas e veda o espírito crítico.
"Estive em Barcelona e vi os indignados. Agora também em Wall Street. São muito similares. Resistem a se engajar no sistema político, em levantar temas políticos...
Burawoy: momento de virada da História. |
Todos esses movimentos refletem uma era de exclusão. (...) O centro de gravidade desses movimentos são os excluídos, os desempregados, estudantes semi-empregados, juventude desempregada, até membros precários da classe média. É um conglomerado de grupos diferentes todos vivendo um estado de precariedade porque foram excluídos da possibilidade de ter uma posição estável [dentro do sistema, pois esta se tornou] um privilégio para poucos.
...É um movimento muito fluido e flexível. (...) Há espontaneidade, flexibilidade. É fascinante. Aparecer, desaparecer. É parte de sua força e de sua fraqueza.
...os participantes são de esquerda, são radicais democratas participativos, que preferem estruturas horizontais a verticais. Protestam contra o capitalismo que enxergam ao seu redor".
No entanto, a barbárie também ronda as fronteiras do império --não mais na forma de contingentes humanos, mas sim das forças de destruição que o capitalismo engendrou contra si, mas se abaterão sobre nós todos.
As catástrofes ambientais que assolarão o planeta nas próximas décadas certamente levarão os seres humanos a unirem-se na luta pela sobrevivência.
Isto para não citarmos outros pesadelos, como os terroristas islâmicos, que em tudo e por tudo lembram as invasões bárbaras, pois corporificam o retrocesso histórico, a volta a um estágio inferior da evolução da humanidade. E poderão causar imenso dano se, p. ex., voltarem seus ataques suicidas contra instalações nucleares. Em se tratando de fanáticos religiosos, tudo é possível.
O certo é que, se escaparmos da destruição total, será o momento em que os seres humanos remanescentes, obrigados a tomar seu destino nas mãos, poderão dar um novo rumo à economia e à sociedade, que vão ser obrigados a reconstruir.
Por enquanto, o futuro é uma completa incógnita --inclusive a existência ou não de um futuro para a humanidade. A única certeza: assim como na canção célebre de Neil Young, estamos saindo do azul e entrando nas trevas.
As catástrofes ambientais que assolarão o planeta nas próximas décadas certamente levarão os seres humanos a unirem-se na luta pela sobrevivência.
Isto para não citarmos outros pesadelos, como os terroristas islâmicos, que em tudo e por tudo lembram as invasões bárbaras, pois corporificam o retrocesso histórico, a volta a um estágio inferior da evolução da humanidade. E poderão causar imenso dano se, p. ex., voltarem seus ataques suicidas contra instalações nucleares. Em se tratando de fanáticos religiosos, tudo é possível.
Por enquanto, o futuro é uma completa incógnita --inclusive a existência ou não de um futuro para a humanidade. A única certeza: assim como na canção célebre de Neil Young, estamos saindo do azul e entrando nas trevas.
Quiçá saiamos delas regenerados.
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