segunda-feira, 9 de julho de 2018

O RESCALDO DA TRAGÉDIA DA ARENA KAZAN

Sempre temos algo a aprender com o grande Tostão, que foi um dos heróis do tri e hoje é o melhor comentarista esportivo do Brasil. Sua coluna deste domingo, 8 (vide aqui) sintetiza otimamente o que foi a tragédia da Arena Kazan:
"O treinador Martínez usou a mesma formação tática do México, com quatro defensores, três no meio-campo e três mais adiantados (De Bruyne, pelo centro, e Lukaku e Hazard, um de cada lado). De Bruyne, livre, deitou e rolou.
Por outro lado, a Bélgica marcou mal, já que os três mais adiantados não voltavam. A Bélgica correu riscos. Deixava Marcelo livre e colocava Lukaku em suas costas. Deu certo. 
O Brasil também correu riscos. Deu errado. A seleção brasileira criou um grande número de chances de gol e só não marcou por erros de finalizações e pela atuação do goleiro Courtois.
O perigo dessas eliminações são as conclusões tendenciosas, equivocadas e absurdas (...). O Brasil foi eliminado por causa de erros individuais e coletivos, do acaso e, principalmente, porque a Bélgica possui quatro jogadores que estão entre os melhores em suas posições no mundo (Courtois, De Bruyne, Hazard e Lukaku). Temos de deixar a soberba de lado e aprender com o óbvio, que, contra grandes seleções, as chances de vitória são iguais"
Farei umas poucas ressalvas. Concordo que fosse mesmo um jogo de grandes seleções, embora a atuação pra lá de inconvincente da Bélgica contra o Japão me tenha levado a subestimá-la; mas não existia igualdade entre ambas, a brasileira era, teoricamente, melhor.

E foi por estar ciente da inferioridade do seu selecionado que o técnico Roberto Martínez (um espanhol que fez carreira medíocre como jogador e depois se tornou treinador de equipes menores do futebol inglês, até assumir o escrete belga em 2016) resolveu partir para o tudo ou nada contra o Brasil, colocando De Bruyne, Lukaku e Hazard à frente da linha da bola, na esperança de que sua defesa fragilizada segurasse as pontas e seu ataque reforçado fizesse gols.

Ou seja, acabou aplicando um nó tático em Tite, que se notabilizou exatamente por dar nós táticos noutros treinadores e assim obter vitórias surpreendentes contra adversários mais fortes. 
Gol que desestabilizou o Brasil: uma sucessão de erros

Será que ninguém da Comissão Técnica estava ciente de que Martínez é conhecido como técnico inovador e seria bem capaz de atuar de uma forma inusitada contra o Brasil?!

O resto foi o que todos sabem: 
  • apagão de Philippe Coutinho (este por esgotamento físico), Neymar e Gabriel Jesus, no pior momento possível;
  • o azar de ter Casemiro fora e Fernandinho dentro;
  • o azar de não ter feito um gol logo de cara, na bola que Thiago Silva desajeitadamente empurrou contra a trave;
  • a imprecisão de Renato Augusto, que sucumbiu ao nervosismo e desperdiçou a grande chance que teve no finalzinho da partida; 
  • a insistência de Tite com Gabriel Jesus, Paulinho e Willian;
  • o erro de Tite ao promover o retorno de Marcelo, esburacando a defesa e não resolvendo na frente.
Tite costuma dar nós táticos; levou um no pior momento
Concordo com Tostão quanto ao fato de o Brasil ter sido eliminado por causa de erros individuais e coletivos, e do acaso; e não rasgaria tanta seda para os quatro melhores jogadores belgas, vejo apenas De Bruyne e Hazard como foras de série.

Por último, a grande pergunta é: mesmo Tite não sendo infalível, isto é motivo para jogarmos no lixo o trabalho mais consistente de um treinador do nosso escrete desde o de João Saldanha?

Mais: existe alguém melhor do que ele para tocar a renovação que se impõe a partir de agora (vide aqui)?

Pessoas simples muitas vezes precisam inculpar alguém quando das decepções mais dolorosas. E há também pessoas que não são simples e estão fazendo tudo que podem para direcionar tal catarse contra Tite, o único treinador em décadas que conseguiu isolar a seleção das influências nefastas da cartolagem.

Derrubar Tite abrirá caminho para a CBF voltar a priorizar outros interesses que não os do futebol, como marcar amistosos caça-niqueis, sem justificativa técnica nenhuma; e escalar jogadores apenas para valorizá-los no mercado internacional, em conluio com agentes e pilantras de todo tipo.

É patético que muitos empenhados no afastamento de Tite sejam exatamente os frustrados com o impeachment da Dilma e a prisão do Lula. Parecem querer que todos os circos peguem fogo ao mesmo tempo!

Comportam-se como se o Adenor fosse um mísero Dunga ou um Felipão qualquer, e não um homem politicamente consciente, que utiliza todo seu jogo de cintura para tentar atingir seus (justos) objetivos em meio às contradições brasileiras, mas, sem dúvida nenhuma, um cidadão contrário ao situacionismo. 

Ou seja, alguns que tanto o hostilizam com seus teclados são, além de injustos, míopes.

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