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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O RUGIDO DE UMA TEMPESTADE PERFEITA E O MIADO DE UMA PERFEITA NULIDADE

ESTÁ CHEGANDO UMA TEMPESTADE PERFEITA. SOBREVIVERÁ DILMA A ELA?
Tempestade perfeita foi como os serviços de meteorologia dos EUA designaram um fenômeno ocorrido em outubro de 1991, quando condições de tempo incomuns maximizaram a contundência de uma grande tempestade vinda do Atlântico Leste; os ventos superaram a força de furacão, as ondas foram além dos 9 metros de altura. 

O título original do filme que aqui se chamou Mar em Fúria (dirigido por  Wolfgang Petersen e estrelado por George Clooney), The perfect storm, popularizou mundialmente a expressão, significando um evento desastroso resultante da sinergia de uma série de fatores adversos.

Segundo o cientista social Marcus André Melo, PhD pela Universidade britânica de Sussex (cuja entrevista ao repórter Fernando Canzian, da Folha de S. Paulo, pode ser acessada aqui), é algo assim que se desenha para o Brasil em 2015:
"...há três elementos fundamentais em curso: políticas de austeridade, as pessoas indignadas com escândalos e um possível desdobramento disso nas ruas, como nas manifestações pró impeachment marcadas para o próximo dia 15 pelo país.
No caso de Dilma, isso deve se manifestar de forma muito intensa. Vai haver um descontentamento difuso colossal, mas sem um espaço institucional, as eleições, para a demonstração desse descontentamento. Mas existem as ruas. 
Haverá manifestações, e se elas podem ou não levar ao impeachment, isso vai depender de surgirem evidências mais duras de implicação pessoal da presidente nos escândalos... 
...o governo perdeu o controle político das duas casas no Congresso, na Câmara e no Senado. O partido de sustentação do governo, o PMDB, agora é quase um adversário".
Resumindo: "É um cenário de tempestade política perfeita, com políticas de austeridade ceifando empregos, escândalos enormes e gente na rua".

Com exceção da nova postura adotada pelo PMDB a partir da eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, tudo isso era facilmente previsível durante a campanha presidencial do ano passado, daí eu ter vislumbrado uma oportunidade interessante quando Marina Silva despontou com força na corrida eleitoral. 

Era a chance de atravessarmos um período muito difícil com uma cara nova (também pertencente ao campo da esquerda) no Palácio do Planalto, ao invés de uma Dilma Rousseff desgastada pela longa permanência do PT no poder, pelo mau primeiro governo e sem grandes metas  para propor, capazes de incutir esperança nos brasileiros. 

A desconstrução de Marina com jogo sujo e propaganda enganosa, erro crasso do PT que poderá ter consequências terríveis adiante, nos colocou na direção da tempestade perfeita. E, como não adianta chorar sobre o eleito derramado, temos agora é de refletir sobre como sairmos da enrascada.

Até agora não caiu para Dilma e os grãos petistas a ficha de que a política de conciliação de classes, estabelecida por Lula na década passada, só teve sucesso devido a circunstâncias que não existem mais. 

A conjuntura econômica internacional favorável permitiu que se aumentasse um tantinho o quinhão do bolo destinado aos mais pobres, sem que, com isto, fossem reduzidos os lucros do grande capital (o caso dos modernos agiotas é emblemático: nunca antes neste país os bancos ganharam tanto como entre 2002 e 2008!).

Agora é a fase das vacas magras, e só não vê quem não quer: por mais agrados e concessões que o governo do PT faça ao poder econômico, nunca serão suficientes para tê-lo como sustentáculo nos instantes dramáticos que se avizinham. Tudo leva a crer que, pelo contrário, verá com bons olhos o impedimento de Dilma, desde que não seja traumático a ponto de prejudicar os negócios.

Daí eu ter proposto, no meu artigo dominical, que o PT reassuma as abandonadas (para dizer o mínimo...) bandeiras de esquerda, pois os que as seguem são os únicos contingentes com os quais poderá contar no momento da decisão. 

Os magnatas que o toleravam em troca da capitulação macroeconômica, os políticos que comprou para "garantir a governabilidade" embora fossem antípodas ideológicos e os coitadezas que nele votavam por causa do Bolsa-Família de nada lhe servirão na hora H. Quem viver, verá.
__________________________ 
O ESTRIDENTE, ESPUMANTE E   SELVAGEM REINALDO AZEVEDO TAMBÉM TROMBETEIA O IMPEACHMENT.
Ele é jornalista, começou na esquerda, percebeu que não tinha consistência intelectual nem carisma para voos maiores, guinou à direita, foi endireitando cada vez mais, até que, finalmente, obteve os sonhados 15 minutos de fama e as sonhadas 30 moedas.

Fez uma opção realista: seus limitados dons eram insuficientes para destacarem-no entre os que travam o bom combate, mas bastavam para que, ao menos, se tornasse rei de um inferno (título brasileiro de um ótimo filme que Bryan Forbes dirigiu há meio século, mas o original cairia igualmente bem: King Rat), embasbacando iletrados com suas catilinárias raivosas, grosseiras e arquitendenciosas; e defender a desumanidade sempre foi e sempre será vantajo$o sob o capitalismo.

Suponho que eu nem precise dizer a quem me refiro. Se fosse brilhante, seria Carlos Lacerda. Como não passa de ouro de tolo, é Reinaldo Azevedo.

O pobre coitado exultou quando a Folha de S. Paulo lhe ofereceu a chance de defender o impeachment da presidenta Dilma Rousseff numa peleja com outro colunista, Ricardo Melo --tanto que fez questão de, ridiculamente, trombetear a grande novidade com quase uma semana de antecedência!

Na hora do vamos ver, não conseguiu bolar nada melhor do que, apostando no primarismo dos cuervos criados pela ultradireita tupiniquim (seus fãs de carteirinha), requentar a defesa que Ives Gandra Martins fez do impedimento de Dilma por negligência e/ou incompetência diante da roubalheira da Petrobrás, mesmo sem comprovação de que ela teria conscientemente favorecido a corrupção e/ou dela conscientemente tirado proveito.

O chato é que o RA havia sido reticente com relação à mesmíssima tese, quando lançada pelo citado porta-voz do Opus Dei. Mas, vale tudo, até plagiar quem pouco antes esnobara, para aparecer com destaque na Folha de S. Paulo, em mais uma vã tentativa de desmentir a avaliação verdadeiramente irrefutável da ombudsman anterior, Suzana Singer, a seu respeito (segundo ela, com mais estridência do que argumentos, mais espuma do que substância, RA trouxe para o jornal "a selvageria que impera no ambiente conflagrado da internet").

Sua tediosa algaravia acabou apenas bisando as tediosas elucubrações direitistas baseadas na teoria do domínio do fato. Cita, p. ex., o art. 85 da Constituição Federal, pretendendo que Dilma teria cometido o crime de "atentar" contra "a probidade na administração". Mas, uma rápida consulta a qualquer dicionário bastaria para RA constatar que tal verbo, neste sentido negativo, é sempre empregado para designar ações praticadas com um propósito intencional. Se Dilma ignorava a gatunagem petrolífera, não se pode imputar-lhe atentado.
Não decolou: só 1,9 milhão de adesões em 20 meses.

Manipulador primário, RA tenta fazer crer que o impeachment seria obrigatório no caso de Dilma, ao afirmar que "a nossa Constituição é eloquente sobre (quase) qualquer assunto". Eloquente pode ser, mas inequívoca nem de longe é. 

Juristas encontram argumentos legais para defender posições diametralmente opostas sobre (quase) qualquer assunto e, ademais, o entendimento dos tribunais muda com o transcurso do tempo.

Daí a importância geralmente dada à jurisprudência (as decisões anteriores sobre a mesma questão) --a qual, contudo, pode ser desconsiderada num dado processo, fincando nova tendência. 

P. ex., a jurisprudência brasileira sobre refúgio humanitário era toda no sentido de que, quando o ministro da Justiça o concedesse, qualquer processo de extradição seria sustado. No entanto, os ministros Gilmar Mendes e Cezar Peluso conseguiram convencer o Supremo Tribunal Federal a anular a decisão de Tarso Genro no Caso Battisti, praticamente esvaziando a Lei de refúgio.

NÃO BASTA O PRESIDENTE SER DESASTROSO, É 
PRECISO EXIBIR SUAS DIGITAIS EM ILEGALIDADES.

Noves fora, o que decidiu a parada foi a voz das ruas.
O impeachment do ex-presidente Fernando Collor, único até hoje, foi aprovado pelo Congresso, mas o Supremo Tribunal Federal depois concluiu pela inexistência de provas aceitáveis (legalmente obtidas) de que ele houvesse incidido em corrupção passiva, bem como de comprovação de que ele tivesse antecipado, omitido ou retardado algum ato funcional em virtude de vantagem recebida. 

Ou seja,  consagrou-se, ainda que a posteriori, o entendimento de que para anular-se uma escolha tão importante dos eleitores não basta um presidente da República ser desastroso, é preciso exibir suas digitais em  graves ilegalidades cometidas no seu governo.

Noves fora, o fator decisivo no impedimento de Collor foi a voz das ruas, o sentimento amplamente majoritário de que ele era mesmo corrupto e precisava mesmo ser afastado; justificativas legais foram produzidas, atenderam às necessidades daquele momento e não subsistiram quando deixaram de ser necessárias. 

Como inexiste tal sentimento a respeito de Dilma, o mais provável é que a direita, por meio de seus estridentesespumantes e selvagens abre-alas, esteja apenas lançando balões de ensaio e tentando fazer o povo acostumar-se à ideia do impeachment. A tentativa pra valer ocorrerá adiante, quando  o fruto estiver maduro para ser colhido.

O que Dilma tem verdadeiramente a temer, portanto, é um aumento acentuado de sua rejeição à medida que a recessão se aprofunde e o escândalo da Petrobrás produza mais estragos. Se a voz das ruas chegar a execrá-la tanto quanto execrou Collor, acabarão aparecendo os acontecimentos e/ou argumentos que justifiquem sua derrubada do poder. É simples assim. 

Como evitar tal desfecho?

Cumprir as promessas de campanha, deixando de fazer o que prometeu não fazer, seria um bom começo.

Afastar Joaquim Levy, Katia Abreu, Gilberto Kassab, George Hilton e outros ministros sinistros, idem.

Ou, o tiro na mosca, resgatar o ideário do Manifesto de Fundação do PT, principalmente o compromisso de, ao lado do povo, lutar pelo advento de "uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores". 

Pois aí voltaria a esperança e os melhores seres humanos teriam motivos de primeira grandeza para defender o governo atual, ao invés de estarem apenas tentando evitar um mal maior.

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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O CHEFÃO DO OPUS DEI FORNECE MUNIÇÃO PARA O IMPEACHMENT DE DILMA

Deu no site jurídico Conjur: o advogado Ives Gandra Martins produziu parecer sobre um eventual impeachment de Dilma Rousseff, concluindo que ele é cabível mesmo não ficando comprovado que a presidenta tivesse intenção de delinquir e/ou se beneficiasse pessoalmente de práticas criminosas:
"Quando, na administração pública, o agente público permite que toda a espécie de falcatruas sejam realizadas sob sua supervisão ou falta de supervisão, caracteriza-se a atuação negligente e a improbidade administrativa por culpa. Quem é pago pelo cidadão para bem gerir a coisa pública e permite seja dilapidada por atos criminosos, é claramente negligente e deve responder por esses atos.
...o assalto aos recursos da Petrobras, perpetrado durante oito anos, de bilhões de reais, sem que a presidente do Conselho e depois presidente da República o detectasse, constitui omissão, negligência e imperícia, conformando a figura da improbidade administrativa, a ensejar a abertura de um processo de impeachment"
Conjur não explicou por que, cargas d'água, o Gandra fez tal parecer, informando apenas que teria sido a pedido de outro advogado. Depois de uma rápida pesquisa, encontrei a informação de que a encomenda partira de uma das construtoras envolvidas com o esquema de corrupção da Petrobrás. Palavra da veja.

Como o assunto parece ser muito do agrado da grande imprensa, a Folha de S. Paulo correu a publicar um relato diferente do Gandra sobre a mesma incumbência. No qual ele nega veementemente que haja empreiteira na jogada. 

Se o Gandra fosse um advogado criminalista, coitados de seus clientes! Divulgou sofregamente o parecer e até agora não conseguiu explicar direitinho para quem o preparou. Se não foi para uma das empresas encalacradas no petrolão, para quem foi? Gandra fornece somente o nome do intermediário: o advogado José de Oliveira Costa, que não teria motivo plausível para desembolsar algo entre R$ 100 mil e R$ 150 mil por mera curiosidade constitucional.

Oliveira Costa, por coincidência, é membro do Conselho do Instituto FHC, mas jura que o ex-presidente de nada sabia. E o tucano sênior sai pela tangente, afirmando apenas que "o impeachment não é uma matéria de interesse político". 

Enfim, o parecer tem uma mãe, que espalhou aos quatro ventos tê-lo colocado no mundo, e um pai não assumido. No fundo, foi mesmo é um balão de ensaio, para testar a receptividade da tese de que presidente(a) da República possa ser impedido(a) por não haver zelado adequadamente pelo patrimônio público, mesmo que inexistam evidências de ter agido com motivações ilícitas.

Outra pergunta que não quer calar é: Gandra entrou nessa apenas por dinheiro ou o Opus Dei está trabalhando nos bastidores para o impedimento de Dilma?

Pois, como todos sabem, Gandra é ninguém menos do que o principal expoente do Opus Dei no Brasil. Como tal, participou em 2006 da campanha presidencial de Geraldo Alckmin, notório membro dessa sociedade ultra-arqui-super-mega-reacionária de fundamentalistas católicos, que se tornou conhecida primeiramente na Espanha, onde teve participação marcante no governo do ditador Francisco Franco.

Tem mais: é devido à enorme influência exercida pelo Opus Dei sobre a grande imprensa que Gandra aparece tanto na mídia, abordando grandes temas nacionais e posando de eminente jurista. No próprio meio jurídico, entretanto, ele está muito longe de ser uma unanimidade como o Dalmo de Abreu Dallari, p. ex. Embasbaca os leigos, mas não os iguais.

Trata-se, na verdade, de um dos principais advogados tributaristas do País. Sua expertise é no mister de apontar aos ricaços os melhores caminhos para pagarem menos impostos e defendê-los quando acusados de sonegação. 

quarta-feira, 5 de março de 2014

A EXEMPLO DE EINSTEIN, EMINENTE FÍSICO BRASILEIRO VIAJA NA MAIONESE

exemplo clássico da miopia política dos gênios da ciência é o episódio Albert Einstein x bomba atômica.

Em agosto de 1939, cientistas europeus apavorados com a possibilidade de a Alemanha nazista produzir sua bomba convenceram o grande Einstein a enviar uma carta ao presidente Franklin Delano Roosevelt, propondo a criação de um projeto nuclear estadunidense.

Deu no que deu: os nazistas nem sequer chegaram perto de fabricar a deles e os estadunidenses só tiveram os artefatos prontos quando passara a chance de utilizá-los contra a Alemanha.

A morte de Roosevelt colocou a decisão no colo de um presidente medíocre: Harry S. Truman.

Apesar de o Japão estar praticamente derrotado e mantendo contatos sigilosos com os EUA em busca de uma fórmula de rendição que lhe permitisse preservar seu imperador, Truman mandou lançar bombas em Hiroshima e Nagasaki. Cerca de 220 mil seres humanos morreram instantaneamente, e tiveram sorte: pior ainda foi a agonia lenta dos atingidos pela radiação.

Motivo da carnificina: mostrar a Joseph Stalin que, embora o exército soviético fosse imbatível em solo europeu, os EUA tinham como retaliar caso a URSS, no embalo da vitória conquistada contra os alemães, decidisse ampliar suas conquistas territoriais. As bombas, em última análise, serviram para deter o Exército Vermelho.

Um dos mais atrozes genocídios da História foi apenas o recado emitido para um terceiro!

Aprendizes de feiticeiros desastrados, os cientistas que antes haviam considerado justificável confiar uma arma do Juízo Final aos estadunidenses, não se conformaram com a mudança de alvo. Admitiam que a bomba fosse usada contra a Alemanha, mas ficaram horrorizados ante a possibilidade de que servisse para os EUA, covardemente, baterem em bêbados da Ásia.

Não conseguiram, contudo, impedir a monstruosidade. Einstein declarou: 
"Eu cometi o maior erro da minha vida, quando assinei a carta ao presidente Roosevelt recomendando que fossem construídas bombas atômicas".
A POLÊMICA QUE O SR. OPUS DEI 
NÃO TEM COMO PERDER

Se aquele que é tido como o maior de todos os físicos fez tal lambança, não é de admirar que Rogério Cezar de Cerqueira Leite, um dos maiores físicos brasileiros, também cometa a sua. 
Cerqueira Leite: digno, mas desastrado.

Numa canhestra tentativa de defender o programa Mais Médicos contra ataque do jurista direitista Ives Opus Gandra Dei Martins (vide aqui), ele compara a situação dos doutores cubanos à de cidadãos recrutados para defenderem seu país numa guerra: 
"Com frequência, os salários desses soldados são insignificantes. Não obstante, se qualquer um se recusar a servir seu país, será considerado um criminoso".
Alega que o povo cubano foi reduzido à "extrema pobreza" pelo embargo econômico estadunidense, tendo sua principal fonte de renda de outrora, a indústria açucareira, perdido competitividade ("hoje está em frangalhos").

Então, explorar o labor de seus médicos seria uma das principais fontes de renda que restaram:
"Para sobreviver e assegurar insumos vitais, tais como remédios, certos alimentos, combustíveis etc., conta Cuba quase que exclusivamente com a exportação de tabaco (charutos), rum e, intermitentemente, dos serviços prestados pelos seus médicos no exterior".
Duvido que os admiradores brasileiros do regime cubano concordem com o quadro catastrófico pintado por Cerqueira Leite.

Gandra Martins: a voz agourenta do Opus Dei.
O coitado está tão desconfortável pisando em praia alheia que cai no ridículo de insinuar e, ao mesmo tempo, negar que Gandra Martins esteja contra o programa por preconceitos ideológicos:
"Reduzir a questão do Mais Médicos a uma infringência burocrática ou, pior ainda, a um conflito partidário ou ideológico -o que certamente não é o caso do jurista- é uma indignidade".
Ora, venerável professor, quem sai na chuva é pra se molhar. Se acha que o artigo O neoescravagismo cubano (acesse aqui) teve como motivação maior o antipetismo escrachado de Gandra Martins, afirme-o sem ressalvas e arrisque-se a uma interpelação judicial. Ou nada sugira nas entrelinhas, pois tal subterfúgio, ainda mais sendo tão perceptível, não faz jus ao seu currículo de brilhante cientista e de cidadão exemplar, que resistiu como pôde à ditadura militar.

O pior é que, sendo a contestação tão pífia, Gandra Martins nem sequer precisaria responder -mas, com certeza, não vai desperdiçar a oportunidade de o fazer, deitando e rolando em cima das impropriedades do artigo de Cerqueira Leite. 

Pois o fulcro da discussão não é o tratamento que os profissionais cubanos recebem do governo cubano, mas sim se o Brasil pode admitir que tal tratamento, em desacordo com as leis brasileiras, seja estendido para nosso país.

É claro que não! Estrangeiro em solo brasileiro está protegido pelas leis brasileiras, ponto final. 

Errou o governo brasileiro ao aceitar imposições do governo cubano em desacordo com nossa legislação trabalhista e com nosso enfoque constitucional dos direitos humanos. E continuará errando se tentar tapar o sol com a peneira, aumentando um tantinho a mesada dos médicos cubanos, ao invés de entregar-lhes o valor total dos seus vencimentos.

Por que o governo cubano faz tanta questão de que a grana lhe seja enviada? Simplesmente por temer que seus soldados, de posse do valor total, não deem a contribuição à pátria que deles se espera.

A verdade, contudo, é que inexiste um estado de guerra declarada, que justificasse a adoção de medidas tão extremas. 

E, o principal: o Brasil não tem motivo nenhum para pisar em suas próprias leis em nome de tal esforço bélico.

Este episódio me lembra o de apostadores em cassinos: quanto maior o prejuízo, mais perseveram em suas tentativas de reverter o quadro, até perderem tudo que têm.

O programa Mais Médicos contém ilegalidades flagrantes, que precisam ser imediatamente sanadas, sob pena de sofrer as mais contundentes derrotas nos tribunais. 

Defender o que está errado, com toscos argumentos de realpolitik, acaba sendo um desserviço, pois, quanto mais tempo perdurarem as situações equívocas, mais dividendos os inimigos delas extrairão. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

MAIS MÉDICOS? SIM! MAIS LAMBANÇAS? NÃO!

No dia 24 de agosto de 2013 eu fiz um artigo (este aqui) defendendo entusiasticamente o programa Mais Médicos. Postei-o nos meus espaços virtuais e divulguei-o por e-mail. 

Se bem me lembro, logo no dia seguinte Eliane Cantanhêde, da Folha de S. Paulo, levantou a lebre de que o governo cubano se reservara o papel de agenciador de mão-de-obra, com a anuência do governo brasileiro. 

Velho jornalista, percebi imediatamente o que decorreria deste erro crasso. E, nas postagens em que havia a possibilidade de eu acrescentar um P.S. ao meu texto, tasquei: 
"...depois de escrito este artigo, veio à tona o estranho esquema de pagamentos adotado no programa Mais Médicos. O dinheiro vai para as autoridades cubanas, que repassam só uma parte para os doutores, confiscando mais da metade. (...) E, com isto, passaram a existir fundamentos legais para o questionamento do programa nos tribunais".
Fico pasmo com a ingenuidade das autoridades brasileiras que trataram do assunto. Bastou um detalhe inaceitável do programa para acionar todos os alarmes na minha cabeça. Elas, que conheciam todos os detalhes, acreditaram que ninguém descobriria. Superestimar o inimigo é receita certa de desastre.

Previsivelmente, ocorreram as defecções de sempre, dando munição para a direita deitar e rolar. O Congresso Nacional virou palco iluminado para o show do DEM, tendo como apresentador um antigo ferrabrás da UDR. E os EUA estenderam o tapete vermelho para todos os interessados em, após curto estágio, trocarem nossos cafundós por Miami.

Previsivelmente, um promotor do Ministério Público do Trabalho fez o que lhe competia diante de situações às quais jamais poderia fechar os olhos.

Previsivelmente, um notório jurista reacionário fulminou o programa num dos principais veículos da grande imprensa, colocando outros promotores na obrigação de intervirem também.

Ives Gandra Martins é um dos maiorais do Opus Dei, mas isto não invalida sua argumentação jurídica, apenas explica o fato de ele estar tão bem informado sobre aquilo que o governo cubano tanto esforçou-se para manter em segredo. 

Seu artigo na Folha de S. Paulo desta 2ª feira, 17 (acesse aqui ) deveria soar no Palácio do Planalto como um alerta de que é chegada a hora das providências drástica: ou adequa o Mais Médicos às leis brasileiras, pagando aos profissionais a totalidade dos seus vencimentos e oferecendo-lhes proteção contra retaliações cubanas (ou seja, garantindo direito de asilo aos que renegarem os compromissos a eles impostos antes da viagem), ou é melhor dar um fim à sua participação no programa. Simples assim.

O contrato que eles assinaram com uma tal Mercantil Cubana Comercializadora de Serviços Médicos Cubanos S/A é simplesmente escabroso, submetendo os médicos a um controle tão rígido do seu governo, em nosso território, que nem sequer casarem com uma brasileira eles podem sem "autorização prévia por escrito" das autoridades de lá.

Gandra conclui (e, pelo menos quanto a isto, deve estar certo):
"A leitura do contrato demonstra nitidamente que consagra a escravidão laboral, não admitida no Brasil. Fere os seguintes artigos da Constituição brasileira: 1º incisos III (dignidade da pessoa humana) e IV (valores sociais do trabalho); o inciso IV do art. 3º (eliminar qualquer tipo de discriminação); o art. 4º inciso II (prevalência de direitos humanos); o art. 5º inciso I (princípio da igualdade) e inciso III (submissão a tratamento degradante), inciso X (direito à privacidade e honra), inciso XIII (liberdade de exercício de qualquer trabalho), inciso XV (livre locomoção no território nacional), inciso XLI (punição de qualquer discriminação atentatório dos direitos e liberdades fundamentais), art. 7º inciso XXXIV (igualdade de direitos entre trabalhadores com vínculo laboral ou avulso) e muitos outros".
Ou o governo brasileiro corrige agora e já tais lambanças, ou verá adiante o programa ser espetacularmente esquartejado nos tribunais durante o dia e no Jornal Nacional à noite.

Um desfecho triste e lamentável, pois era meritória a iniciativa de levar médicos, quaisquer médicos  minimamente competentes, aos grotões desatendidos. Só não podíamos era sujeitarmo-nos tão obtusamente ao autoritarismo cubano, levantando a bola para os adversários marcarem uma avalanche de pontos.

Por último: o cesteiro Lula já fez dois cestos, mas, se não mudar seus planos, dificilmente chegará ao cento. O mais provável é empacar logo no terceiro. 

Quem poderia se eleger surfando na onda de um programa popular e vitorioso, não se elegerá com os Gandras da vida afirmando, e a mídia a serviço da direita (ou seja, quase toda a mídia) trombeteando dia e noite, que "o Mais Médicos esconde a mais dramática violação de direitos humanos de trabalhadores de que se tem notícia, praticada, infelizmente, em território nacional".

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

QUANDO O SR. OPUS DEI DEFENDE O ZÉ DIRCEU, ATÉ O SANTO DESCONFIA...

Quando um inimigo figadal deita falação que de alguma forma favorece as nossas causas, como devemos proceder? Espalhando aos quatro ventos para colhermos benefícios imediatos, como fazem os propagandistas em geral? 

Não. Mais sensato é refletirmos profundamente, tentando decifrar o porquê desse seu posicionamento inusitado. E, em seguida, pesarmos os prós e contra de levantarmos a bola do personagem em questão.

É o que os defensores virtuais do Zé Dirceu não fizeram no caso da entrevista de Ives Gandra Martins ao jornal da ditabranda (vide aqui).

Quem é Gandra? 

Nada menos do que o principal expoente do Opus Dei no Brasil. Como tal, participou inclusive da campanha presidencial de Geraldo Alckmin, membro dessa sociedade ultra-arqui-super-mega-reacionária de fundamentalistas católicos (que se tornou influente, em primeiro lugar, na Espanha, onde praticamente se fundiu ao governo do ditador Francisco Franco). 

Por que Gandra aparece tanto na mídia opinando sobre grandes temas nacionais e posando de eminente jurista? Única e tão somente devido à enorme influência do Opus Dei na grande imprensa. Pois, na verdade, ele não passa de um advogado tributarista. Sua expertise é na área de ensinar os ricaços a tourearem o Fisco e socorrê-los quando acusados de sonegação. 

Para não gastar muita vela com mau defunto, recorro às sólidas avaliações do Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que qualificou Gandra de "uma  personalidade  ligada à ditadura, ao latifúndio e aos setores mais reacionários", defensor de "tudo o que é há de mais retrógrado e conservador na sociedade brasileira". Nada a acrescentar.

Então, o que levaria tal personagem a alinhar-se com Zé Dirceu?

Como identificação política não há, a hipótese mais plausível está neste trecho da entrevista:
"Você tem pessoas que trabalham com você. Uma delas comete um crime e o atribui a você. E você não sabe de nada. Não há nenhuma prova senão o depoimento dela --e basta um só depoimento. Como você é a chefe dela, pela teoria do domínio do fato, está condenada, você deveria saber. Todos os executivos brasileiros correm agora esse risco".
Ou seja, o interesse do Gandra no assunto seria apenas profissional: ele teme que "todos os executivos brasileiros" comecem a ser condenados pelos delitos econômicos que atiram nas costas de seus subalternos quando a m... fede, fingindo nada saberem, como perfeitos anjinhos que são... 

Na condição de um dos principais patronos de tais executivos, que recebe régios honorários para livrá-los de multas e da prisão, faz sentido Gandra querer detonar a  teoria do domínio do fato  a qualquer preço, nem que seja preciso somar forças com um antípoda ideológico.

Como fez todo sentido ele recentemente esbravejar contra a derrubada da proposta de emenda constitucional  que enfraqueceria a investigação dos crimes do colarinho branco.

Tudo isto ponderado, vale a pena dar quilometragem ao blablablá do Gandra neste assunto, sabendo que no próximo artigo ou entrevista ele estará provavelmente lançando outra de suas diatribes coléricas contra valores e posições de esquerda?

Não. Mil vezes não!

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